sábado, 11 de julho de 2009

A moça, o bar-man, e os dois homens.

A moça:
Quando entrei no carro, já vinha desnorteada. Liguei o motor, saí de arrancada. Tive sorte de passar por todos os semáforos verdes, porque se estivessem vermelhos, eu os ultrapassaria mesmo assim. Minha vontade era chegar em casa, tomar um banho, tirar a maquiagem, esquecer o dia e dormir, mas minhas lembranças me perseguiam como uma onça persegue a presa, me encarceravam numa sela sem metal, na qual a única coisa que realmente me sufocava era o próprio pensamento.
Cheguei em casa. Roupas no cesto, toalha seca, xampu e sabonete. Aquele parecia o melhor momento que eu tivera nas últimas vinte e quatro horas. A água estava morna, naquela temperatura ideal para um banho relaxante. E então voltaram meus carrascos, mais fortes que da última vez. Vinham e me faziam chorar essas lembranças malditas. O dia foi tão atordoante, que eu não sabia mais como me proteger de tais idéias. Me lembrava do olhares, do desprezo, a forma mais cruel inventada pelo homem para ofender à alguém. Aqueles hipócritas!
Nesse instante, bateram à minha porta. Era a polícia.
O bar-man:
Não sei exatamente o que acontecia. Vi gritos, como numa briga, e um copo quebrando no chão. O susto foi geral, a festa toda parou! Uma moça chorava, e clamava por misericórdia. Continuei sem entender. De frente para ela, um senhor e um jovem rapaz, que tinham no olhar um fúria que eu jamais vira. O jovem estava vermelho, e quando falava usada um tom de desprezo. Fiquei com pena da moça, parecia a maior humilhação de sua vida. Mas o que podia eu fazer atrás do meu balcão? Calei e esperei.
O jovem:
Fiz o que achei que devia ser feito. Na frente de todos, sem dó! Não que eu seja frio, só fui sincero.
O senhor:
Chamei a polícia.

Pouco depois, o bar-man conversava com alguém:
- Você entendeu?
- Mais ou menos...
- E então?
- O senhor era pai do rapaz.
- Sim, mas qual era o motivo da discussão?
- Pelo que ouvi, a moça matou a mãe do garoto.

Simultaneamente, pai e filho:
- Eu disse que daria tudo certo.
- Ainda bem que acabou...
- Concordo, mais ainda há providências a serem tomadas!
- Quais?
- Onde esconderemos o corpo?

terça-feira, 2 de junho de 2009

Olhar

Na manhã mais fria, o menino achou uma flor. Era tão cheirosa, e tão bela! Ele logo arrancou-a da terra e pôs dentro do bolso da camisa. A mãe ao ver disse que aquilo não era apropriado à um garotinho, e ordenou-lhe que retirasse-a e jogasse-a fora. Não obedeceu.
Quando chegou à escola, a professora teve a mesma atitude, e lhe deu uma ordem igual, a qual também não foi cumprida. Seus colegas lhe disseram mesmo, e riram. O menino não entendeu. “Como alguém poderia achar indigno carregar consigo uma planta e rir e de uma coisa tão bela?” Na mesma noite teve um sonho.
Ele se via à frente de um espelho enorme, e de trás do objeto saía uma luz forte e vermelha. Sentiu medo, e curiosidade. Logo ouviu uma voz, que lhe dizia para observar-se, e julgar-se. Ele não compreendeu, mas assim o fez. Seus olhos desciam centímetro a centímetro, até chegarem aos pés. Viu seus sapatos pretos, já um pouco velhos. Voltando, passou-os pela calça amassada e depois pela camisa desbotada. Percebeu que era a roupa que usava durante o dia. Olhou o próprio rosto: era ligeiramente abatido, um olhar cansado, mas incrivelmente feliz. Após a analise, perguntou à voz o que deveria ser julgado. A resposta foi: “O que desejar”. Pensou, reparou novamente nas vestes, mas desta vez percebeu sua flor. E então respondeu que não era bonito, e apesar do certo ar de felicidade, que sentia-se pequeno. A voz imediatamente o repreendeu em tom forte, questionando-lhe o porquê da afirmação. Retrucou, então, que era porque todos que prezava não gostavam de sua flor, e que não entendia o motivo de tanto descaso. Não entendia como aquelas pessoas não conseguiam notar a beleza que ele via na tal planta. Não sabia que mal havia em colocá-la no bolso, e usá-la sem que niguém o reprimisse. A voz soltou uma leve risada, e com essas palavras aliviou-lhe o pensamento: “Pobre garoto, ainda não conhece a malícia... Aprenda uma coisa: as pessoas diferentes estão por toda parte. Diferentes como você, diferentes como eu. Não são notadas nunca, e assim que atraem um olhar, são maltratadas. Por não fazerem parte do normal, acabam passando por situações constrangedoras, e isso simplesmente por não serem como todos. Mas existem seres que prezam as diferenças, e enxergam além dela. E sabem que elas realmente não importam, porque internamente todos somos iguais. Aqueles que não as compreendem, as julgam erradas e perniciosas”. Sentiu-se tocado. “Mas isso não me parece justo...”. A voz então lhe pediu para gravar uma palavra: ignorância. Acrescentou que os “juízes” não julgavam por mal, apenas por falta de conhecimento. Ainda mais confuso, perguntou como previnir-se disso, e a resposta foi: “Sendo você, como sempre foi. À quem não agradar, simplesmente lance um sorriso. E à quem agradar, faça igual”. Ele então compreendeu o que a voz dizia.
Acordou.
Sorriu.

domingo, 19 de abril de 2009

Realidades.

Sempre tive vontade de falar e passar mensagens com pensamentos que eu julgo relevantes. Sempre tive vontade de fazer a diferença. Sei que nem dezoito anos completei, e que tenho a vida inteira pela frente, mas gosto de transmitir experiências, e recebê-las dos outros também.
Frequentemente eu penso no que quero para minha vida, e o que eu espero que ela me retorne. Dentre os tantos pensamentos, eu descobri que a única coisa que espero é felicidade, conceito esse extremamente relativo. Cheguei então a conclusão que existem várias "felicidades", diversas situações nas quais eu me encaixo, e que me sentiria pleno se ocorressem.
Quero, na verdade, ver o mundo com outros olhos, conhecê-lo por inteiro (ou pelo menos boa parte dele). Quero alcançar todos os sonhos grandes e altos! Ser alguém importante e influente, e com essa influência, fazer a diferença. Não estou sendo demagogo de forma nenhuma, pois demamogogos dizem coisas certas querendo fazer as erradas. Eu digo as que eu considero certas tentando alcançá-las. E se as pessoas não acreditarem, será uma pena, porque eu não vou deixar meus ideias por suas descrenças. Claro que sempre ouvirei quem tiver mais experiência, mas há comentários que ficam melhores guardados na garganta de cada um.
Eu prezo a liberdade e seus dons. Liberdade, claro, relativa. Porque liberdade total eu ainda não tenho, e vou demorar a ter. Mas quero ser livre pra ver as coisas como são, e se necessário, modificá-las. Quero que daqui a cem anos, alguém se lembre do meu nome, saiba que eu ousei, e que mudei algo, e que isso se reflita para outras épocas. Não almejo fama, almejo mudanças.
Na verdade a mensagem de hoje é ousadia. Não aquela de passar por cima dos outros, impõe sua presença, e é desagradável. Falo daquela que se destaca, daquela atitude que ninguém tem coragem de tomar, e você vai e faz. Faz e ajuda. Faz e sustenta. Eu estou tentando ousar, e sei como é difícil. Mas se não fossem os ousados, onde estaríamos hoje?

domingo, 5 de abril de 2009

Contratempos viagísticos.


5:00 da manhã. Entrei no carro com o notebook, dois CD's do Black Eyed Peas e um do Legião Urbana, que ganhei de um amigo muito querido, na mão. São Paulo, mesmo às escuras, estava em pleno pique, com todas as luzes ligadas (os paulistanos sabem do que eu estou falando). Entramos na Castello Branco. Durante a viagem fui observando as árvores, e à medida que íamos pro Sul, mais as árvores mudavam, até que comecei ver as Araucárias. Tinha de todos os tamanhos, em todos os lugares. Reparei também que os pinhos estavam cada vez mais presentes, e também umas arvorezinhas de flor cor laranja que eu não sei o nome.
"Bem-vindo ao estado do Paraná!"
Confesso que a primeira impressão não foi das melhores, era uma região agrícola com poucas casas, o lugar não era o mais bonito de todos. Logo adiante, um cheiro horrível [no português bem claro: de merda mesmo]. Olho pros lados, nada. Depois vimos que era um caminhão cheio de porcos. Na parte de cima, os filhotes, na de baixo, uns bem gordos!
Paramos em Ponta Grossa para abastecer. Dale álcool no tanque do carro.
Mais estrada...
Estávamos com um pouco de pressa, e um caminhão vinha a 60 km/h na nossa frente. A rodovia era daquela de mão dupla, e o que a dividia era uma faixa amarela (que me causou pavor, diga-se de passagem). Passavam juntos, no máximo, 2 caminhões, um de cada lado e em sentidos opostos. Ultrapassagem, na certa. Minha mãe esperou o melhor momento, claro. Um caminhão branco atrás. Passamos para a contramão, para depois voltar mais a frente. O carro começou a falhar, e quanto mais minha mãe acelerava, menos saía do lugar. Resultado: Dois caminhões, um na frente e outro atrás, nós na pista da contramão com o carro pifando, e pra completar, com outro carro vindo bem na nossa direção. Foi Deus! Fomos parar no acostamento da outra pista.
Fomos com o carro ainda falhando até Guarapuava, um bom caminho até. Chegando lá, abastecemos com gasosa aditivada. Aí o carro parou de vez.
15:00.
Sentei na banquinha de frutas na beira da estrada. A moça do seguro disse que demorariam até sessenta minutos com o reboque, mas em vinte já estavam lá. Mais uma hora, e já estávamos na estrada com o táxi do seguro.
O mais estranho de tudo, é que a gente andava, andava, andava mais, andava mais um pouco, e Foz ainda estava longe. O taxista corria, e eu com minha fobia de "coisa que vem em alta velocidade na minha direção", estava quase tendo um troço. Tenho certeza que minha pressão subiu, tanto que até com dor na nuca fiquei.
21:30(aproximadamente)
Foz. Até que enfim. Cidade até que movimentada, carros do Paraguai, um shopping, algo parecido com uma galeria...
Cheguei no hotel. Capotei.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Nós, cosmopolitas!

Estou na praia, o dia está nublado. Tem uma certa melancolia no ar (me senti o Zezé de Camargo falando isso, mas tudo bem). Só que as pessoas aqui parecem, pelo menos a maioria, ser mais saudáveis.
A grande maioria se trata com sorrisos, diferente de São Paulo, que nem percebemos quem senta ao lado. Concordo que em uma cidade enorme como a nossa, é até considerado loucura sair cumprimentando os outros na rua (vão te chamar de louco, ou de tarado, no mínimo). Mas a hostilidade que as cidades grandes nos impõe é o ponto.
Todo mundo vive com medo, olhando para os quatro lados, vendo se alguém vai tentar fazer algo, e ainda procura um quinto lado pra olhar. As mulheres andam com as bolsas encostadas na barriga, e apoiadas pelo braço, para não correrem o risco de assalto, e ainda assim são assaltadas. Os motorista com medo de parar no farol, os pedestres com medo de atravessar a rua. Se bobear, até a faixa de pedestres tem medo de ser roubada (Vai saber, cada coisa que acontece hoje em dia). E o metrô e o ônibus lotado? Ah, esses são os piores. Ter alguém atrás de você, um desconhecido, e algumas vezes tentando tirar proveito da situação (se é que me entendem), é detestável. Sem contar nos espertinhos que furam as filas e brigam.
É, o caos toma conta!
Mas acho que cada um pode fazer sua parte. Atenção nunca é demais, principalmente para pessoa desacompanhadas. Acho que não dar bola para brigas na rua também é essencial. (e se tem uma coisa que eu vejo o povo gostar, essa coisa é briga!) Então, não dar crédito a esse tipo de coisa é um bom começo. No metro, ficar na fila e tentar não empurrar, e se alguém tentar a "tática da mão boba", tente se afastar, se possível.
Estou me sentindo como se fosse aqueles caras que vão no Fantástico dar dicas de convivência em sociedade (às vezes esse programa me irrita), mas acho que tem gente que precisa acordar pro mundo!

segunda-feira, 9 de março de 2009

É, os excessos...

Não sou a pessoa mais indicada para falar sobre excessos e como controlá-los, afinal também tenho os meus, mas também não chego a extremos.
Ontem, saindo de casa para encontrar com duas amigas, encontro um ser caído a 2 metros da porta do meu prédio. Ele estava estirado, com a barriga para cima, no meio da calçada, e sua mochila ao lado com duas jaquetas. Na hora eu pensei: "Ah, mundo perdido". Mas depois parei pra pensar que ele talvez nem tenha tido orientação suficiente, e se deixou levar pelos vícios.
Depois voltei e tirei uma foto, ele já não estava mais no meio da calçada, mas ainda desmaiado e/ou dormindo. Eu precisava registrar.
Não sei exatamente o que me fez sentir ver isso, mas não foi uma sensação muito boa.
Enfim, são os excessos...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Ah, a portabilidade!

Portabilidade. Só se fala dela!
A Embratel, de prontidão, já fez suas propagandinha de boas vindas:
"Agora você já pode vir para a Embratel, com seu número e sem pagar assinatura!", com a notinha de rodapé: "Só uma pequena franquia flexível."
Ah, o ser humano, tão doce e tão desinteressado. Incrível como nenhuma oportunidade é perdida.
Compreendo que os empresários devem sim cuidar de seus negócios, e realmente promover. Seu sustento está ali, condenar isso seria uma visão errada, preconceituosa, e me desculpem os que seguem essa linha de pensamento, socialista utopista (vocês sabem, condenar os capitalistas a blá blá blá). Mas às vezes tenho a impressão que as empresas em geral pensam que os clientes são trouxas (com o perdão da expressão).
É aquela velha história: dar com uma mão, e receber com a outra. Tudo bem, a portabilidade é uma coisa ótima, mas quem disse que isso é um "privilégio"?! Já percebi que muitas empresas estão encarando isso como um favor ao cliente, no entanto, isso não passa de um direito do ser humano: ir e vir.
Enfim, é bom sempre abrir os olhos, quando menos esperamos um espertinho vem e tenta fazer nossa cabeça...